1979. William Patrick Corgan nasceu no ano de 1967,
portanto a escolha do ano que dá título à canção provavelmente se deu por ter
sido este um ano marcante na vida do artista. Ou talvez seja um ano qualquer do
período de sua infância/adolescência, o que por si só já justifica o tom
nostálgico da música e do vídeo que a acompanha. Jovens correndo por aí,
fazendo pirraça, novos demais para se preocupar com consequências. “Cool kids
never have the time”. Sangue fresco correndo nas veias. A vida é curta, quem
tem tempo pra ficar parado?
“And
I don’t even care to shake this zipper blues”. “Blues”, por si só, já
significa melancolia. “Zipper blues” é um tipo mais específico dela: o
sentimento que alguém tem ao passar por uma mudança. O termo vem de ter sempre
que fechar o casaco (zip up), por
nunca conseguir ficar parado no mesmo lugar, estando sempre em movimento,
sempre de mudança. A expressão pode ter se originado do caso específico de
mudar de residência, mas com certeza ela serve pra designar o sentimento que
fica após qualquer tipo de transformação.
E as transformações estão presentes durante toda
uma vida humana. As mais significativas podem ser a passagem da infância para a
adolescência e desta para a idade adulta. Nestas fases, elas são tão constantes
que não dá nem pra “se incomodar em espanar a zipper blues”, pois logo ali em frente haveria outra situação
parecida. No meio do caminho de cada um desses períodos, amigos que vão embora
porque seus pais foram transferidos no trabalho, ou para estudar em outro
lugar; a própria partida da cidade natal, indo para um lugar desconhecido,
distanciando-se da querida turma de todas as horas. Mudanças escolares, do
ensino fundamental para o médio, deste para a faculdade. Há também o
distanciamento natural, causado por situações que ocorrem no dia-a-dia, como discussões
e brigas, relacionamentos que terminam por motivos quaisquer. Fora as próprias
mudanças físicas, os hormônios que florescem, a aparência que se altera. Mas as
mudanças não são exclusividade da juventude. Mudanças de emprego, de cidade, de
relacionamento, acontecem com pessoas de todas as idades e são sentidas da
mesma forma. Talvez a experiência nos ensine a lidar melhor com cada desvio na
rota, mas isso não os torna menos difíceis.
Ainda assim, nos acostumamos com a rotina dos dias;
o sol nasce e se põe e às vezes nem percebemos. Nos chateamos com tudo o que
nos envolve e que nos habituamos a ver todos os dias. Por vezes nos esquecemos
do quanto é mutável a vida, e pensamos que as coisas nunca vão mudar. “We were sure we’d never see an end
to it all”. Achamos que tudo o que temos é nosso pra sempre, took for granted. Não nos preocupamos
em preservar o agora, pois desejamos o que ainda não temos, queremos mais.
Pensamos no futuro, quando o presente talvez seja a melhor coisa que teremos
algum dia na vida. Ou então, o contrário: deixamo-nos levar por lembranças, por
momentos dourados que ficaram registrados na memória. Esquecemos que também
nesses tempos idos vivíamos uma rotina às vezes chata e cansativa e só
pensávamos em crescer e conquistar independência, lembrando apenas dos
instantes mágicos, da maravilha de não ter grandes responsabilidades. Mais uma
vez não nos lembramos que a vida acontece a cada instante, e que o agora também
pode nos presentear com momentos que, por sua vez, se cristalizarão em nossas
mentes.
Claro que é legal relembrar os bons momentos,
revivê-los em nosso pensamento; é ótimo ter vivido coisas tão legais que mais
tarde nos emocionamos ao recordar. Deixar o passado para trás é inútil, até
porque ele tem muito a nos ensinar. Olhar para a frente também é importante,
afinal algum planejamento é essencial para atingir certos anseios e metas. Mas
melhor do que tudo isto é saber valorizar, saber aproveitar com intensidade
cada segundo que se vive neste exato momento, se entregar a isto. Ter
consciência de que todas as coisas que hoje nos rodeiam podem um dia
desaparecer, sem nem percebermos, e saber que provavelmente um dia sentiremos
falta dessas coisas, como sentimos saudade de tantas outras que já passaram. E,
enxergando tudo isso claramente, saber o quanto se é feliz AGORA.
Se tivesse o poder de me movimentar pelo tempo, não
mexeria em nada, não trocaria nada de lugar, não mudaria a ordem dos
acontecimentos. E não escolheria estar em qualquer outro instante que não o
presente.
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