A maçã ideal


A vida pode ser muito engraçada às vezes. Pensando bem, parece até que ela brinca contigo, de vez em quando. Tu passas a vida inteira sonhando com alguma coisa qualquer que tu gostas e te faria feliz, desde comer a maçã com o sabor ideal até, sei lá, algo um pouco mais complexo. Acontece que tem coisas muito difíceis de acontecerem quando são muito idealizadas, então tu te machucas algumas vezes até suspender a procura. Tu não desistes, lá no teu íntimo, mas paras de procurar em todos os lugares.

Então, com a guarda mais baixa, o mundo parece, de repente, ter se enchido de possibilidades. Coisas que antes não eram vistas porque se focava em apenas uma única imaginária, ideal. Coisas que sempre estiveram ali, mas não eram observadas, então tu vais e exploras o novo, aquilo que tu nunca imaginaste. Tu te abres pra algo que não veio pra ti envolto em luz com anjos entoando cantos. Pelo contrário: é algo que parece, à primeira vista, comum, e quem te ofereceu foi a vida. Tu não procuravas por isso. Mas tu vais lá e tentas.

Aí, tu pegas aquela maçã, que está madura e em boas condições, mas que não é vermelha e redonda da mesma forma que tu imaginaste. E dás uma mordida. O gosto também é diferente daquele que tu imaginaste, mas, por outro lado, tu nunca tinhas sentido um gosto igual a este aí. É um sabor diferente, novo. E bom. Ótimo, na verdade. E esta se torna a maçã ideal pra ti, não mais aquela que tu imaginavas desde criança. Esta que a vida empurrou nas tuas mãos e, ao invés de dizer “não, obrigado”, tu pegaste e disseste “bom, vamos lá”.

As maçãs acabam logo e, infelizmente, tu provavelmente vais ter que te abrir pra outras maçãs que não sejam aquela que tu provaste e deu tudo certo. As pessoas também não são eternas, mas duram mais tempo, e, na verdade, tu não precisas que elas sejam eternas, pois tu também não o és. Elas só precisam estar ali o tempo suficiente para te cativarem e se tornarem, cada uma a seu modo, essenciais à tua vida. Pais, irmãos, tias, primos, sobrinhos, namorada (o)(as/os – vai saber, cada um, cada um), amigos, e por aí vai.

Talvez um dia tu pares pra pensar na vida e pensa naquele teu sonho de criança e nas coisas ideais que tu pensavas encontrar. Pode até ser que tu te sintas triste num primeiro momento, por “não tê-las conseguido”. Mas aí tu olhas pra tua vida e pra tudo o que ela te ofereceu e tu pegaste e mantiveste contigo e enxerga que aquilo ali é, na essência, tudo o que tu sempre quiseste. Apenas com cores e formas diferentes.

Comentários

Unknown disse…
Que beleza de texto, cara! Traduz o que é a vida e como devemos tratá-la, a visão periférica é necessária para que a felicidade seja alcançada!
Clarissa disse…
que lindo gui! bonitas percepções da vida! saudade de ti :)

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