A(s) Criação(ões) do(s) Mundo(s)
" - Me diga uma última coisa - disse Harry. - Isso é real? Ou esteve acontecendo apenas em minha mente?
Dumbledore lhe deu um grande sorriso, e sua voz pareceu alta e forte aos ouvidos de Harry, embora a névoa clara estivesse baixando e ocultando seu vulto.
- Claro que está acontecendo em sua mente, Harry, mas por que isso significaria que não é real?"
Muitos podem estar familiarizados com estas palavras, muitos outros não estão. Mas desde o primeiro momento em que as li, elas me fascinaram, e sempre me fizeram refletir bastante sobre seu significado. A pergunta, deixada ali, sem uma resposta, uma pista ou explicação qualquer, tem aquele ar que todos os mistérios detêm. E isso tem uma razão de ser: a resposta nunca pode ser dada pronta àquele que foi questionado, pois a resolução do enigma faz parte do caminho.
A pergunta feita por Dumbledore à guisa de resposta à indagação de Harry traduz pensamentos meus de longa data. Vejo a minha mente (e consequentemente a de todas as pessoas) como um universo particular. Ali dentro, ganho poderes de criação. Posso inventar planetas, galáxias inteiras, e ser senhor deste mundo imaginário, controlá-lo ao meu bel prazer. Tudo é possibilitado.
No, digamos, mundo real e tangível, as possibilidades são muitas, mas sãos reduzidas. Temos certas limitações de várias espécias, como a física, e temos que jogar conforme as regras do jogo, por diversas vezes. Crescemos e convivemos com nestas condições, e vimos durante nossas vidas que as outras pessoas, neste sentido, são praticamente iguais. O que realmente me intriga é: como, diante destes fatos, as nossas mentes conseguem criar outro tipo de realidade onde tudo é possibilitado? De que maneira surgem às nossas mentes sensações e experiências que nunca vivemos? Que mistério explica a nossa imaginação, a capacidade de fantasiar? Certamente não a "realidade".
É o que me traz de volta à pergunta primeira, que se desmembrou em tantas outras. Em algum lugar eu li (não nestas palavras e tenho dúvidas quanto à precisão do que será afirmado) que o cérebro humano funciona de uma forma parecida com o Universo. Isso sempre me levou a imaginar que cada pessoa tem em si um pequeno universo, no qual ela própria dita as regras e cria tudo o que ali há. E a imaginação é o combustível que dá vida a esses universos, que tem seus próprios seres, que vivem suas vidas de forma diferente da que nós, seres humanos do planeta Terra, vivemos.
Por isso, o mundo à parte que J.K. Rowling imaginou quando escreveu Harry Potter, ou J.R.R. Tolkien quando deu forma à Terra Média, assim como tantos outros que, de várias maneiras, seja em livros, músicas, pinturas, ou qualquer outra expressão existente, criaram novos mundos, estes podem não ter sido transpostos para a nossa realidade de forma tangível. Porém, através do conhecimento destas obras, estes mundos se transpuseram para as mentes de outras pessoas, que passam a também ter conhecimento e a viverem, mesmo que por breves instantes, os universos particulares dos artistas. É o que me faz sentir como se os personagens criados por outras pessoas sejam, para mim, verdadeiros exemplos e amigos.
E também é o que me motiva a lutar com palavras, como fazia Drummond, para também eu dar vazão e forma ao mundo que crio em minha mente, para que outros possam nele entrar e sentirem-se em casa.
Comentários
Meus parabéns!
Sempre que divagar, escreva. Pois mesmo para aqueles que não acreditam no que não podem ver, teu texto será uma realidade.