2019: uma modesta retrospectiva

Chegando à metade do mês de dezembro de 2019. Amanhã tenho a última prova do semestre. O ano foi muito pesado, talvez tenha sido o ano mais difícil de minha vida em muitos sentidos. Nunca senti tanto pessimismo, nunca senti tanta apatia, nunca tive tanta falta de vontade de fazer coisas na vida. Qualquer coisa, mesmo as que eu gosto de fazer. Minhas obrigações, então... terminar a dissertação de mestrado foi quase um ato de violência contra mim mesmo, tamanha era a vontade de simplesmente deixar para lá.
Não deve ser diferente para todas as pessoas que já passaram por isso antes. De certa forma, é de fato um ato de violência: como na jornada do herói, é um teste, uma morte e uma ressurreição. É uma experiência de chegar ao limite e expandi-lo, encontrar no limiar uma parte de si mesmo que não era conhecida. E, no fim, deu tudo certo.
Mas eu saí desse processo exausto, e a vida não para e eu tenho de encarar o que vem pela frente e parece aterrorizador. Talvez seja somente meu medo de enfrentar desafios cada vez maiores, mais por falta de disposição do que de me sentir incapaz. Eu queria somente descansar. Houve um tempo em que eu nunca queria descansar. Só se vive uma vez; na morte eu teria descanso, eu pensava. Para quê? A vida tem de ser aproveitada. Eu era mais destemido nessa época. Ou mais inconsequente. Ou mais ingênuo. Ou um pouco de todas essas coisas.
Experimentei também nesse ano um sentimento curioso de desejar esse descanso eterno. Não como um pensamento suicida, nada tão mórbido. Mas um sentimento de que talvez a vida seja mais longa do que eu imaginava. A perspectiva de ter muita coisa pela frente sempre foi algo que me animou; esse ano houve momentos em que isso me trouxe desespero e eu achei melhor não pensar nisso, como uma espécie de negação, uma vontade de que tudo passasse logo. Esquisito para alguém que se acabou chorando quando assistiu o filme Click, com Adam Sandler, e que sempre teve fome por viver. Será que isso é sinal de crescimento? De ter de fato chegado à vida adulta? Apesar de tudo, eu ainda me recuso a aceitar que seja assim. Deve ser uma fase, deve ter uma saída, uma outra forma de ver as coisas.
Parece um ano realmente horrível, não?
E, no entanto, hoje à noite eu estava pensando um pouco sobre essas coisas enquanto estudava para a prova de amanhã. E eu senti uma melancolia antecipada, pensando em como as sextas-feiras pela manhã foram legais na companhia de meus colegas e do Prof. Régis, nas aulas de Panorama Histórico e Sócio-cultural das Literaturas de Língua Inglesa (eu demorei o semestre inteiro para decorar o nome da disciplina; na maior parte do tempo eu falava apenas "Parâmetros", ao invés de "Panoramas", o apelido carinhoso da turma para não ter que falar o nome inteiro). Sábado passado teve a última reunião do ano do grupo de estudos sobre quadrinhos. Fazia alguns meses que eu não aparecia nas reuniões, e eu estava sentindo muita falta dos colegas do grupo. Isso me faz lembrar de eventos de que participei.
Fiz menos coisas do que gostaria de ter feito, é verdade; poderia ter ido a mais eventos, escrito mais, trabalhado mais. Na maioria das vezes, a preguiça e o cansaço mental me venceram. Mas também seria injusto dizer que não houve nada de bom. Eu conheci pessoas que se tornaram importantes para mim. E eu me diverti na companhia dessas pessoas, mesmo que por momentos mais breves e mais escassos do que seria possível. Mesmo assim, tenho lembranças desse ano que me fazem sorrir e quase sentir saudade antecipada. E eu não estava esperando por isso.
Faltam ainda alguns dias para o ano acabar, e ainda há coisas por favor, então não vou me despedir ainda. Mas, no apagar das luzes, o sentimento de gratidão começa a aflorar cada dia mais.

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